sexta-feira, 13 de agosto de 2010

"E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.

Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro).
O revólver da gaveta
saltou para a mão.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era novo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Da garrafa estilhaçada,
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora."

(Trechos de "Morte do leiteiro",
de Carlos Drummond de Andrade)

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